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Portugal na cauda da UE no regresso ao PIB pré-Covid

Apesar de ter registado o quinto maior crescimento da União Europeia no segundo trimestre deste ano, o PIB (produto interno bruto) de Portugal ainda está a 4,7% do nível pré-crise pandémica. Por um lado, há dois países na UE mais longe desse nível e, por outro lado, há nove países que já recuperaram totalmente. A média europeia está a cerca de 3% de completar a retoma, sendo influenciada pela maior demora nas quatro maiores economias (Espanha, Itália, Alemanha e França).

Estas são conclusões tiradas a partir dos dados do Eurostat sobre o PIB do segundo trimestre de 2021 na União Europeia, ainda na ausência de números para sete países. A comparação é feita com o quarto trimestre de 2019, o último sem a pandemia de Covid-19 na Europa. No caso da China o PIB recuperou ainda em 2020 e no caso dos Estados Unidos a retoma ficou completa no segundo trimestre deste ano.

Na União Europeia, entre os 21 Estados-membros para os quais há dados completos, 14 países ainda não recuperaram totalmente. O que está mais “atrasado” é Espanha onde o PIB estava no final de junho cerca de 7% aquém do nível pré-pandemia. A economia espanhola não sofreu tanto quanto Portugal no primeiro trimestre deste ano, tendo caído apenas 0,5%, mas tinha sido mais afetada durante 2020, registando a maior queda anual (-10,6%) da União Europeia.

Segue-se a República Checa (cerca de 5% aquém) e depois Portugal, cujo PIB está 4,7% abaixo do tamanho que tinha no quarto trimestre de 2019. Entre estes países poderá ainda estar Malta: o Eurostat ainda não tem dados do segundo trimestre, mas no primeiro trimestre o PIB do país estava 6% aquém do nível pré-pandemia.

O caso da economia portuguesa é explicado pela maior queda do PIB no segundo trimestre do ano passado, influenciado pela maior dependência económica do turismo em comparação com outros países europeus, e também pelo maior impacto da Covid-19 no arranque de 2021. Portugal registou a maior contração do PIB da UE no primeiro trimestre, fruto da difícil situação pandémica em janeiro e fevereiro, atrasando notoriamente a retoma da economia portuguesa.

Ligeiramente acima de Portugal surgem as três maiores economias da Zona Euro: Itália, cujo PIB está 4% aquém, Alemanha, cujo PIB está 3,6% aquém, e França, cujo PIB está 3,3% aquém. A economia alemã já esteve mais avançada neste processo, mas foi penalizada significativamente no primeiro trimestre e não conseguiu recuperar todo o impacto do arranque do ano no segundo trimestre.

É a demora da recuperação nas maiores economias europeias que puxa a média — a expectativa das instituições europeias é que a média recupere totalmente ainda este ano — significativamente para baixo: o PIB da Zona Euro está 3% aquém do nível pré-pandemia e o da União Europeia 2,6%. Isto apesar de ter muitos mais países europeus (só que mais pequenos) acima da média europeia do que abaixo. É o caso da Irlanda, que é a economia mais avançada na recuperação da pandemia — porém, é preciso relembrar os efeitos contabilísticos que incidem sobre o cálculo do PIB irlandês.

Os outros oito países que já ultrapassaram o nível pré-pandemia são a Letónia (0,1% acima), Polónia (0,19% acima), Hungria (0,6% acima), Dinamarca (0,69% acima), Lituânia (1,51% acima), Roménia (1,95% acima), Luxemburgo e Estónia. No caso da Irlanda, Luxemburgo e Estónia, o Eurostat ainda não tem dados do segundo trimestre, mas estes países já tinham ultrapassado no primeiro trimestre. Perto de ultrapassar, entre os países sem dados para o segundo trimestre, estão a Grécia (-2,9% aquém) e a Croácia (-1,6% aquém).

PIB português ainda 9% abaixo de 2019. Lituânia já recuperou

Entre os que devem alcançar o nível pré-pandemia nos próximos trimestres, antes do final do ano, está a Holanda, Suécia, Finlândia e Bulgária. Também a cerca de 3% do PIB pré-Covid está a Bélgica, Chipre e Eslováquia. Isto significa que, salvo alguma surpresa negativa, a maioria dos países da União Europeia deverá chegar ao final deste ano já com a economia recuperada da Covid-19. No caso de Portugal, a expectativa é que tal aconteça no início de 2022.

Os dados confirmam também a ideia de que foi nas economias do Norte da Europa onde o impacto económico da pandemia foi menor e é lá que a retoma está a ser mais rápida, em relação ao Sul da Europa. Porém, há exceções: por um lado, com a Alemanha (considerada do Norte da Europa na habitual divisão entre Norte e Sul) a juntar-se à causa da UE neste indicador e, por outro lado, com a Croácia e a Grécia, países mais dependentes do turismo, a recuperar mais rapidamente do que outros países do Sul da Europa.

Ademar Dias

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